A capacidade de tomar decisões baseadas em dados se tornou um aspecto fundamental na governança moderna. Nesse sentido, a análise de dados é uma poderosa aliada do poder público, que pode transformar a administração, otimizar recursos e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
No Brasil, o uso da análise de dados é aplicado em diversas áreas do governo. Exemplos em áreas como saúde, educação e justiça mostram que os gestores que adotam essa abordagem conseguem reduzir custos, aumentar a produtividade e melhorar a eficiência dos serviços prestados.
Neste artigo, vamos explorar o que é a análise de dados, os principais tipos de análises aplicadas à gestão pública, as ferramentas utilizadas e como essa metodologia tem ajudado os gestores a tomarem decisões mais assertivas.
O que é análise de dados e por que ela é importante para a gestão pública?
A análise de dados refere-se ao processo de examinar conjuntos de dados com o objetivo de identificar padrões, extrair informações e ajudar na tomada de decisões.
No contexto da gestão pública, essa prática envolve a coleta, processamento e interpretação de grandes volumes de dados gerados por diferentes fontes governamentais, como serviços de saúde, educação, segurança e justiça.
A importância da análise de dados no setor público reside na sua capacidade de tornar o processo decisório mais eficiente e transparente. Com uma grande quantidade de informações à disposição, os gestores podem identificar gargalos operacionais, prever demandas futuras e otimizar a alocação de recursos.
Além disso, a análise de dados também permite a melhoria contínua dos serviços prestados ao público, uma vez que os resultados podem ser monitorados e ajustados com base em evidências objetivas.
4 tipos de análise de dados aplicados à gestão pública
Para entender como a análise de dados pode ser aplicada na gestão pública, é importante conhecer os quatro principais tipos de análise, sendo elas: descritiva, diagnóstica, preditiva e prescritiva.
Cada uma dessas abordagens oferece uma visão diferente sobre os dados e ajuda os gestores a responderem a perguntas específicas que variam desde "O que aconteceu?" até "O que deve ser feito?"
Análise descritiva
A análise descritiva se concentra em resumir e organizar dados históricos para responder à pergunta: “O que aconteceu?” Dessa forma, é amplamente utilizada na gestão pública para fornecer uma visão clara sobre o desempenho passado de programas e serviços.
- Coleta e consolidação de dados históricos;
. - Identificação de padrões ou tendências;
. - Criação de relatórios que destacam resultados e indicadores-chave.
No setor público, esse tipo de análise é fundamental para fornecer relatórios anuais de desempenho, identificar problemas em serviços como saúde e educação e avaliar a eficiência de políticas públicas implementadas em diferentes períodos.
Nestes casos, um exemplo de análise descritiva, ainda que, nesta circunstância, costume ser feita manualmente, é a elaboração de pareceres e relatórios em processos administrativos.
Na maioria dos casos, tais documentos têm o objetivo de resumir ou sintetizar o conteúdo de denúncias, notícias de fato ou ocorrências. Assim proporcionando uma visão mais clara sobre situações que demandam a atenção dos agentes públicos.
Análise diagnóstica
Enquanto a análise descritiva se concentra somente em relatar o que aconteceu, a análise diagnóstica busca entender "por que isso aconteceu?". Para isso, investiga as causas subjacentes de determinado fato e ajuda a identificar as variáveis que mais influenciaram os resultados.
- Investiga as causas de falhas ou sucessos em programas públicos;
. - Ajuda a identificar correlações entre diferentes variáveis (como a relação entre a educação e a criminalidade);
- Facilita a compreensão de problemas complexos e multidimensionais.
Na prática, a análise diagnóstica é usada, por exemplo, para identificar os fatores que contribuem para o aumento da criminalidade em uma região ou as razões por trás da alta taxa de evasão escolar.
Análise preditiva
A análise preditiva utiliza dados passados para prever o que poderá acontecer no futuro, sendo amplamente apoiada por recursos de estatística e probabilidade. Na gestão pública, essa abordagem permite prever demandas, identificar riscos e antecipar desafios futuros com base em padrões históricos e algoritmos avançados.
- Utiliza modelos estatísticos e machine learning;
. - Previsão de demanda para serviços públicos (como saúde e educação);
. - Antecipação de crises ou problemas futuros (como surtos de doenças).
Um exemplo de uso dessa análise é o caso do SENAI, que utiliza modelos preditivos para prever a demanda por cursos técnicos com base em dados do mercado de trabalho e indicadores regionais, otimizando a oferta de cursos e garantindo que os recursos sejam usados de forma mais eficiente.
Análise prescritiva
A análise prescritiva vai além da previsão e recomenda ações específicas com base nos dados analisados. Ela responde à pergunta: "O que devemos fazer?" e utiliza dados para sugerir a melhor ação a ser tomada, considerando os objetivos e restrições existentes.
- Recomenda as melhores decisões ou políticas públicas;
. - Otimiza a alocação de recursos e o planejamento de ações;
. - Facilita a elaboração de políticas mais assertivas e direcionadas.
Um exemplo na gestão pública é o uso de análise prescritiva para alocar recursos em hospitais de acordo com a demanda prevista para atendimentos de emergência, como no caso do Hospital Estadual Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, onde a análise dos padrões de atendimento reduziu o tempo de permanência de pacientes na UTI e as taxas de mortalidade.
Ferramentas e metodologias para análise de dados na gestão pública
Diversas ferramentas e metodologias estão disponíveis para auxiliar os gestores públicos na análise de dados. Algumas das mais populares incluem softwares de business intelligence (BI), ferramentas de machine learning e plataformas de análise de grandes volumes de dados, conhecidas como big data.
Entre as ferramentas mais utilizadas estão o Power BI e o Tableau, que ajudam na visualização e na criação de relatórios com base em grandes conjuntos de dados.
Do mesmo modo, outras ferramentas, como R e Python, são amplamente utilizadas para realizar análises estatísticas mais avançadas e criar modelos preditivos.
As metodologias de machine learning, por exemplo, são cada vez mais adotadas no setor público, permitindo que os gestores criem modelos preditivos que se ajustam automaticamente à medida que mais dados são coletados.
Esses modelos têm sido aplicados em áreas como a previsão de demanda por serviços de saúde, no combate às fraudes e na otimização do tráfego urbano.
O interesse do governo em contribuir com o entendimento desses conceitos é notável. Conseguimos perceber isso com iniciativas como o curso "Introdução à ciência de dados aplicada à gestão pública", oferecido pela Escola Virtual.Gov, que capacita gestores e servidores públicos nas técnicas básicas de coleta, organização, interpretação e visualização de dados.
Como a análise de dados melhora a tomada de decisões estratégicas na gestão pública?
A coleta e interpretação adequada dos dados oferecem aos gestores públicos a oportunidade de tomar decisões mais informadas, baseadas em evidências concretas, em vez de depender exclusivamente da discricionariedade ou de percepções subjetivas. Assim, o uso de dados reduz a incerteza e permite uma gestão mais proativa.
Por exemplo, no sistema de justiça brasileiro, o programa Justiça 4.0 utiliza a plataforma Codex para organizar dados de milhões de processos. Isso permite que os juízes tenham acesso a informações organizadas, facilitando a tomada de decisões mais rápidas e assertivas.
Desafios na implementação da análise de dados na gestão pública
Apesar dos benefícios claros, a implementação da análise de dados na gestão pública enfrenta uma série de desafios. Entre os principais obstáculos estão:
- Falta de infraestrutura tecnológica adequada;
. - Resistência cultural e falta de treinamento de servidores públicos;
. - Dificuldade em garantir a qualidade e integridade dos dados coletados;
. - Questões relacionadas à privacidade e segurança dos dados.
Superar esses desafios exige um compromisso claro do governo em investir em infraestrutura, capacitação de equipes e criação de políticas de governança de dados.
Casos concretos de aplicação da análise de dados na gestão pública
Conheça casos concretos da aplicação da análise de dados na gestão pública:
Redução do tempo de permanência em UTI e taxas de mortalidade: o caso do Hospital Estadual Getúlio Vargas
O Hospital Estadual Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, enfrentava o desafio de otimizar o uso de seus 22 leitos de UTI para pacientes graves.
Com a análise de dados, a equipe de data analytics avaliou os padrões de internação e tratamento, resultando na redução do tempo de permanência dos pacientes na UTI em mais de três dias e na queda das taxas de mortalidade em 21%.
Por fim, isso permitiu ao hospital atender mais pacientes por mês, otimizando os recursos disponíveis.
Justiça 4.0: Codex e DataJud transformando o sistema judiciário brasileiro
O programa Justiça 4.0, liderado pelo CNJ, utiliza a plataforma Codex para organizar e integrar dados de mais de 114 milhões de processos judiciais em 158 fontes conectadas.
Dessa forma, o DataJud oferece uma base nacional de dados processuais, permitindo a análise e geração de estatísticas do sistema judiciário brasileiro. Assim, essas ferramentas ajudam a classificar processos, identificar grandes litigantes e fornecer subsídios para a tomada de decisões pelos magistrados.
No entanto, as decisões judiciais não são automatizadas, sendo as tecnologias apenas um suporte para o trabalho dos juízes, promovendo maior transparência e eficiência na gestão judiciária.
Previsão de demanda por cursos técnicos: o caso do Sistema SENAI
O SENAI desenvolveu um modelo preditivo para ajustar a oferta de cursos técnicos com base em uma série de dados, como o mercado de trabalho, indicadores regionais e a demanda por empregos.
Esse sistema elevou a assertividade na abertura de turmas de 45% para 80%, garantindo que os cursos ofertados estejam alinhados com as necessidades do mercado de trabalho em diferentes regiões do Brasil.
Como resultado, o SENAI conseguiu otimizar seus recursos, melhorando a formação de mão de obra qualificada nas áreas de maior demanda e ajudando a reduzir a ociosidade na oferta de cursos.
Desenvolvimento de tecnologia local: monitoramento de importação de baterias de chumbo ácido
Através do monitoramento da importação de baterias de chumbo ácido, o SENAI, em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, identificou a oportunidade de desenvolver localmente baterias para carros com sistema start-stop, que não eram fabricadas no Brasil.
O projeto de pesquisa capacita a indústria nacional para atender a demanda interna e, potencialmente, gerar novas oportunidades no mercado de reposição automotiva.
Por fim, o desenvolvimento local da tecnologia foi um passo importante para reduzir a dependência de importações, fortalecer a indústria brasileira e melhorar a competitividade no setor automotivo.
Simplificação de serviços públicos: a plataforma Gov.br
A plataforma Gov.br centralizou 1.740 serviços públicos, oferecendo aos cidadãos um único portal para acessar serviços de diferentes órgãos governamentais.
Todavia, a partir do mapeamento e padronização desses serviços, foi possível eliminar redundâncias e facilitar o acesso do cidadão aos serviços públicos de forma digital.
Essa centralização promoveu uma gestão mais eficiente, reduzindo a burocracia e otimizando o uso de recursos públicos.
Conclusão
Os exemplos mostram como a análise de dados pode mudar a gestão pública. Dessa forma, gerando benefícios diretos para a população e melhorando o uso dos recursos públicos.
Seja na saúde, justiça, educação, desenvolvimento tecnológico ou simplificação de serviços, a aplicação de dados permite uma gestão mais estratégica, transparente e eficiente.
Contudo, para que esses avanços se consolidem, é necessário superar desafios como a falta de infraestrutura e a capacitação técnica, garantindo que o setor público esteja preparado para aproveitar todo o potencial dessa poderosa ferramenta.
Gostou do artigo? Aproveite para ler sobre compliance no setor público.